Sobre o jornal Causa Operária

Há 42 anos, em junho de 1979, um grupo de militantes trotskistas rompidos com a Organização Socialista Internacionalista (OSI) publicou o primeiro número do jornal Causa Operária. Haviam formado, no final de 1978, a Tendência Trotskista do Brasil (TTB) e realizaram, em janeiro de 1980, o congresso de fundação da Organização IV Internacional (OQI). O nome – Causa Operária – foi retirado do primeiro jornal criado por Lênin e destruído pela repressão czarista.

No começo, era apenas uma pequena publicação datilografada e reproduzida em umas poucas cópias em tamanho ofício, grampeadas. Desde sua criação, o jornal do nosso partido passou por  diferentes fases, com regularidade, formatos, quantidade de páginas e tiragens que variaram acompanhando os altos e baixos do próprio partido, do movimento operário e da situação política nacional, servindo sempre, no entanto, ao mesmo propósito: ser a principal ferramenta para o trabalho coletivo e o elo entre o partido, a vanguarda da classe operária e da juventude revolucionária e as massas. A criação do jornal Causa Operária foi a manifestação clara da assimilação pelo partido das concepções revolucionárias e proletárias sobre a organização partidária. O jornal tem como objetivo ser um propagandista e agitador coletivo, como disse Lênin em seu livro Que fazer? (1902): “A esse respeito, pode-se compará-lo aos andaimes que se levantam ao redor de um edifício em construção; constitui o esboço dos contornos do edifício, facilita as comunicações entre os diferentes construtores, permitindo-lhes que dividam o trabalho e atinjam o conjunto dos resultados obtidos pelo trabalho organizado.” A imprensa operária é um instrumento para a educação política do partido, das massas.

Desde o início, a nova organização se ligou ao movimento operário, participando ativamente das greves do ABC em 1979 e da construção do PT, em 1980, das oposições sindicais e da CUT nos anos de 1983 a 1985, do movimento pelas “diretas já”, a Constituinte e das campanhas eleitorais. Cada questão, cada polêmica, todos os aspectos da luta por um partido operário e revolucionário estão retratados nas páginas de Causa Operária desde o começo. Deste modo, o jornal partidário sustentou as posições combativas contra a política da burocracia sindical lulista, por um partido operário, apoiado na mobilização da classe operária e nos sindicatos, em oposição às tendências pequeno-burguesas na origem do PT, contra a política de colaboração com a burguesia (a frente popular de 1989).

Não foi à toa que os militantes da OQI, o embrião do partido que existe hoje, tornaram-se conhecidos em toda parte como militantes da “Causa Operária“, como tendência dentro do PT, até sua expulsão no início dos anos 90. Mais do que um mero porta-voz das posições políticas da organização, o jornal Causa Operária era – e é até hoje – o seu militante nº 1. 

Expulsos do PT e conscientes do completo fracasso do PT e da sua liquidação definitiva como perspectiva de construção de um Partido da classe operária, os militantes de Causa Operária lançaram-se à tarefa de construir um novo partido operário o qual, embora muito minoritário em relação ao PT constituía-se em uma necessidade impostergável. Confrontados com a necessidade política de legalizar seu próprio Partido, não poderiam ter escolhido outro nome ao registrá-lo no TSE em 1996: Partido da Causa Operária. 

“Embora tenha mudado de nome [de OQI para PCO], há uma linha de continuidade tanto política como organizativa desde 1978. O novo nome é o resultado de que o jornal era muito mais conhecido do que a própria organização e, assim, é o jornal que vai dar o nome ao Partido, inclusive para sublinhar a continuidade”, disse o companheiro Rui Costa Pimenta, presidente nacional do PCO, em entrevista ao jornal Causa Operária (nº 1.100, 14 a 20 de março de 2020).

“Uma curiosidade é que este nome foi apresentado pela primeira vez quando termina uma ocupação de fábrica dirigida pelo Partido no Frigorífico Pedroso em Santo André no ano de 1992. Como resultado da política do governo Collor, que paralisa a economia nacional, há centenas de milhares de demissões e o fechamento de várias empresas. O frigorífico Pedroso da base do Sindicato dos Frios de São Paulo, dirigido por militantes do Partido, não consegue pagar os salários e é tomada a decisão de ocupar a empresa, o que é feito. A ocupação vai durar três meses com inúmeros enfrentamentos com a polícia. Ao final, quando o frigorífico é desocupado, os operários pixaram no muro frontal da fábrica a expressão ‘Partido da Causa Operária’ que, se pode dizer, foi inventada por eles” (idem).

A década de 1990 e os primeiros anos do século 21 foram muito duros para o partido e o jornal, bem como para a classe operária e a esquerda no seu conjunto. O refluxo das lutas operárias e a imposição da duríssima política neoliberal dos governos Collor, Itamar e FHC, no entanto, não impediram o partido de continuar a se organizar, participar das eleições e manter seus vínculos em escala nacional por meio do jornal. “O PCO foi vitorioso em agrupar um núcleo de vanguarda que, nos momentos de ascenso e refluxo das lutas operárias soube desenvolver e consolidar um programa socialista e revolucionário e abrir caminho para construir uma verdadeira alternativa política de classe para os trabalhadores” (“Nota sobre a história do Partido da Causa Operária”, in.: Quem somos e por que lutamos?, 2021).

Durante esse período, diversas iniciativas foram tomadas a partir do jornal, buscando aprofundar a formação política e teórica da militância, com a publicação de suplementos e cadernos especiais, tratando da teoria marxista, da história do movimento operário e das revoluções, bem como questões específicas de cultura, da luta das mulheres e da juventude.

Desde 2003, quando Causa Operária ainda lutava para se consolidar como um semanário nacional, o partido deu um passo decisivo para o futuro da sua imprensa: a criação de uma publicação diária na Internet, que permitiu um rápido crescimento do número de leitores e da influência do partido, fortalecendo-o por meio do seu trabalho de agitação e propaganda.

“Com a criação do portal do PCO (pco.org.br) em novembro de 1999, passamos a publicar notícias esporadicamente na seção Causa Operária Notícias Online (CO online). Nosso trabalho deu um salto adiante com a crise na Bolívia. Passamos a noticiar os acontecimentos diariamente, às vezes com várias atualizações durante o dia. Naquele agosto de 2003, o CO online – que em 2014 se tornou Diário Causa Operária e em 2016 ganhou endereço próprio (causaoperaria.org.br) – se estabeleceu como jornal diário do PCO na Internet”, escreveu o companheiro Rafael Dantas, que participou da fundação do diário do PCO na internet e atualmente é diretor de redação do jornal Causa Operária (in.: “Já fomos atacados, mas não como agora”, Causa Operária, nº 1.120, de 3 a 9 de agosto de 2020).

“Sob a direção do companheiro Rui Costa Pimenta, um grupo de jovens militantes se formou e se instruiu nos diversos aspectos políticos e práticos do trabalho de uma redação. Aprendemos a escrever, criticar, polemizar, corrigir e publicar. E, desde cedo, enfrentamos todo tipo de problemas para manter e aprimorar nossa nova ferramenta de trabalho que – juntamente com o jornal impresso que circula desde 1979 e a Causa Operária TV, entre outras publicações – colocam nosso Partido em primeiro lugar dentre os partidos de esquerda do país no que diz respeito ao trabalho de agitação e propaganda política” (idem).

Em 2007, apoiado na conquista de quase quatro anos de uma imprensa diária, com dezenas de milhares de acessos todos os meses na internet, o jornal Causa Operária impressofoi completamente reorganizado e passou a aparecer em sua versão regularmente, todas as semanas, superando definitivamente toda a instabilidade dos anos anteriores. Mais da metade de seus números foi publicada nesses últimos 14 anos. 

Durante todo este período decisivo da sua consolidação como o maior, mais regular e mais antigo órgão da imprensa operária em circulação, algumas iniciativas devem ser destacadas por terem se incorporado à experiência acumulada do partido e do jornal. 

Desde a regularização da sua publicação, o número de páginas oscilou entre oito e 28, em caderno único ou em vários cadernos encartados, com mais ou menos espaço para as diferentes editorias conforme a situação. 

Nos períodos em que circulou com a maior quantidade de páginas, entre 2008 e 2013, o jornal publicou um importante caderno cultural, dedicando semanalmente várias páginas a literatura, música, artes plásticas, bem como história e teoria marxista. Esta iniciativa permitiu ao partido aprofundar a sua análise sobre temas diversos, oferecendo à militância em primeiro lugar e aos leitores de uma forma geral uma compreensão mais profunda, genuinamente marxista, de problemas cruciais da história e da cultura nacional e internacional. Artigos dedicados a cultura, história e marxismo continuam presentes, mesmo nos períodos em que o jornal pôde dispor de pouco espaço.

Com o ascenso da luta contra o impeachment e o golpe de Estado, em 2016 o número de páginas do jornal foi reduzido a oito, publicadas em um único caderno, visando aumentar o número de exemplares e o alcance do jornal com um preço de capa reduzido (apenas R$ 1,00 em S. Paulo e R$ 2,00 nos demais estados). A iniciativa partiu da experiência muito bem-sucedida da maior manifestação contra o golpe, em 19 de março daquele ano. Uma edição especial de Causa Operária foi publicada com preço de capa reduzido e 1.900 exemplares foram vendidos durante o ato, a maior quantidade de exemplares de uma edição vendida em um único evento até então.  Para alcançar essa cifra, uma brigada de militantes se dedicou à tarefa durante quatro horas e meia (das 18h às 22h30). Foram vendidos 415 jornais por hora, o que representa um jornal vendido a cada 10 segundos. Essa importante realização da militância do PCO mostrou um caminho para um enorme crescimento do partido e seu jornal.

As vendas do jornal cresceram muito a partir daquele período, particularmente nos atos públicos, em que até três mil de exemplares eram vendidos em poucas horas em escala nacional. Em 2017, o partido avaliava na sua 27ª Conferência Nacional que “o trabalho de agitação e propaganda do partido alcançou um novo e importante patamar no último período, graças a polarização na situação política, evidenciando o deslocamento à esquerda de um amplo setor. (…) O sistema de agitação e propaganda conheceu um importante desenvolvimento em função da luta contra o golpe (…) Foram criadas, porém, as condições para a ampliação da venda regular do jornal Causa Operária com maior centralização das células e a superação das dificuldades na distribuição do material impresso nacionalmente. (…) De um modo geral, o terreno a ser explorado no trabalho de agitação e propaganda partidária é imenso e a tarefa colocada para todo o Partido é desenvolver ao máximo sua potencialidade”. Os anos seguintes, marcados pela luta contra a prisão de Lula e por sua libertação, viram oportunidades como essas se repetirem, ainda que em menor escala.

Em 2020, o jornal chegou à sua 1.100ª edição e se viu colocado diante de uma nova situação. A consumação do golpe de 2016, que levou Michel Temer ao poder, e a fraude eleitoral de 2018, que permitiu a ascensão de Bolsonaro por meio da prisão ilegal do ex-presidente Lula (franco favorito na disputa), fizeram as manifestações de rua refluírem o que, além do mais, foi agravado pela eclosão da pandemia do coronavírus.  O número de páginas aumentou novamente e o jornal voltou a ser publicado em cadernos separados (política e economia; internacional e movimentos; cultura) sem, no entanto, abandonar o objetivo de alcançar uma venda massiva em escala nacional. As novas circunstâncias favoreceram a abertura de novos canais de difusão do jornal: as assinaturas do jornal impresso e de sua nova versão digital (www.jornalcausaoperaria.com.br). Uma reorganização do trabalho dos militantes com o jornal permitiu ao partido superar os obstáculos colocados nos anos anteriores pelos altos custos do envio do jornal pelos correios, já que os exemplares passaram a ser entregues aos assinantes por meio dos militantes em cada cidade. O portal do jornal na Internet, por sua vez, quebrou completamente a barreira da distância, permitindo ao jornal alcançar, além de um público cada vez maior no Brasil, um grande número de leitores internacionalmente.

O jornal Causa Operária, seguindo o exemplo dos bolcheviques, busca em suas edições transmitir a política do partido de forma clara e objetiva sobre todos os acontecimentos políticos de relevância nacional e internacional, buscando “elaborar os métodos adequados que permitam ao partido revolucionário influir sobre estes acontecimentos”, como disse Lênin em 1901 no artigo “Por onde começar”. 

Esse importante trabalho partidário, central para o desenvolvimento do próprio partido, vem se desenvolvendo de forma progressiva desde então. A agitação e a propaganda realizadas nos diferentes meios conquistados para esse fim (o diário na Internet – que também se tornou uma importante plataforma para divulgar os cursos de formação política e teórica marxistas, palestras e plenárias do Partido –  o jornal impresso, a imprensa sindical de suas frentes de intervenção, folhetos, livros etc., e o canal de televisão online, a Causa Operária TVé o setor fundamental da atividade do Partido.

Os militantes do Partido da Causa Operária só podem se orgulhar de serem os únicos que realmente têm em mãos uma ferramenta indispensável como seu jornal na luta para construir um verdadeiro partido operário, revolucionário e socialista, de massas.