Vinícius Rodrigues
Já ouvi inúmeras vezes em manifestações de rua no Rio de Janeiro “aqui tem mais policial do que gente”, vindo da boca dos mais revolucionários aos mais moderados. A fala levanta a polêmica de que o policial seria um trabalhador que merece ser defendido. Mas se nem gente é, como pode ser trabalhador?
Alguns setores da esquerda pequeno burguesa influenciados pelo clima reacionário da política atual e por seu oportunismo adotaram a defesa da polícia como mais uma categoria de trabalhadores, os assassinos do povo seriam uma espécie de “operários da segurança”. O maior expoente desse absurdo nos últimos tempos foi o PSOL do Rio de Janeiro e destacadamente Marcelo Freixo (atual PSB), o maior sindicalista da PM. A campanha eleitoral de Freixo consiste em defender mais a polícia que o próprio governador fascista Cláudio Castro, responsável pelas chacinas do Jacarezinho e do Salgueiro.
A tese é: por ter origem pobre e muitas vezes não ter altos salários, os policiais também são trabalhadores. Uma farsa. A principal função da polícia na sociedade capitalista é a repressão da classe trabalhadora, são a tropa de choque da burguesia para garantir a sua dominação da sociedade. Isto é, a polícia é o exército permanente da burguesia contra a classe operária. Quem fala que o exército do seu inimigo, que te massacra todos os dias, é seu aliado está perdido, é louco ou mal intencionado.
O exército de fato, as Forças Armadas, não são iguais a polícia, apesar de na América Latina a semelhança parecer grande devido as ditaduras militares. A função das FFAA não é a de reprimir os trabalhadores, em suas bases há uma disputa política grande. Na Revolução Russa, por exemplo, após três dias toda a polícia havia desaparecido, já o exército era uma das principais forças nos sovietes. Durante as revoluções sempre se forma um exército revolucionário mas não existe a “polícia revolucionária” o que existe são as milícias operárias que não tem nada em comum com as atuais milícias da burguesia, sejam as institucionais ou as ilícitas.
A defesa da polícia em manifestações de esquerda pelas direções pequeno burguesas sempre gera um repúdio nas bases. Por isso no Rio de Janeiro surgiu um canto: “Para de caô, policial não é trabalhador / é vagabundo!” Ou seja, pára de mentira, de enganação. O grito é sempre recebido pelos policiais que escoltam os atos, na iminência de reprimi-lo violentamente, com o mais puro ódio, pois os desmascara totalmente.
Eles, que atacam nos trabalhadores todos os dias nos chamando de vagabundos, são os verdadeiros vagabundos. Não produzem nada para a sociedade, não reduzem em nada a criminalidade, não melhoram nenhuma questão social e muitas vezes nem trabalham. A guarda municipal do Rio de Janeiro por exemplo, que tem como função agredir e extorquir os moradores de rua e camelôs, tem uma escala de trabalho de 12h por 60h, menos de 30h por semana, um direito que os trabalhadores de verdade deveriam ter e não os seus algozes, que nem deveriam existir.
Para acabar com a ideia de que policial também é trabalhador basta compará-lo com o seu equivalente na época da escravidão: “O capitão do mato também é escravo”. Assim se escancara o absurdo. Primeiro que o capitão do mato é um dos maiores inimigos dos escravos, segundo que o capitão do mato realmente não era um escravo, era um funcionário dos senhores de engenho. O companheiro André Constatine do movimento das favelas resumiu bem qual a relação dos trabalhadores com a polícia numa entrevista no dia seguinte à chacina do Jacarezinho. “Quem se sente seguro com a presença da polícia militar? Se você se sente seguro você não faz parte da classe operária”.
A esquerda não deveria em hipótese alguma defender a polícia, civil, militar ou federal; são nossos inimigos, são fascistas assassinos, matam dezenas todos os dias, só crianças foram mais de 2000 em dois anos. A política da esquerda tem que ser: Dissolução total da polícia e de todo o aparato de repressão. Os trabalhadores devem organizar a sua própria segurança, pois a segurança da burguesia é justamente a repressão dos trabalhadores.