Nego Mancha e Goldman, rappers da Zona Leste de São Paulo, lançaram no YouTube e nas redes sociais do grupo o videoclipe da música “Os Mais Humildes”. Em nota, eles explicam a produção:
“A canção ‘Os Mais Humildes’ surge a partir do contexto político atual do Brasil. Momento em que o país se divide e ninguém sabe para onde ir, ‘Os Mais Humildes’ vem com a proposta de apontar o caminho.
E o caminho é a revolução! Vamos nos unir e levantar contra a injustiça, e tomar o poder e nosso destino em nossas mãos. ‘Não pensem que vim trazer a paz, eu vim trazer a Espada!’ – Jesus Cristo”
De formação cristã, Nego Mancha e Welder, vulgo, Goldman, partilham da sede e fome por justiça, e assim como se anuncia sobre Cristo, fazem a escolha pelo lado dos mais fracos, os injustiçados pelo sistema capitalista opressor e a burguesia fascista.
O videoclipe inicia com imagens sobre a demagogia cristã feita por Bolsonaro misturada à retórica de apologia à tortura. No início do videoclipe imagens de puro fascismo fundindo as figuras do presidente com o governador João Doria e apoiadores do fascismo reafirmando a “memória” do criminoso torturador, Ustra. Inicia o videoclipe o norte da luta, derrotar o golpe e o fascismo. Misturam-se às falas, termos assumidamente fascistas como “Sou psicopata; a polícia militar vai atirar para colocar no cemitério” (Doria); “Bandido bom é bandido morto” (Sargento Fahur); “Foram disparos péssimos, não é? Se fossem disparos controlados e com a devida precisão, não teria sobrado ninguém”[Mourão, sobre os 80 tiros que mataram uma família dirigindo um automóvel no Rio de Janeiro].
O rap começa a batida a partir da campanha do Partido da Causa Operária (PCO), “Fora Bolsonaro e todos os golpistas”, dando o tom e a referência da música revolucionária.
“Os mais humildes é quem mais representa, de frente com o processo se vê quem é na cena. Quem é que vai, quem é que fica, o justo é feliz com o que acredita”.
O início, que também é refrão e final da música, estabelece a linha de força da favela e da visão revolucionária, em carregar com eles a voz do povo trabalhador e da favela.
“Olha para mim, o que você vê, sou diferente de quem está no poder; Uma foice e um martelo, uma cruz e um furador; O coração está contra o opressor. É por amor, quebrada, é por amor”.
A clareza na arte revolucionária se expressa na defesa do armamento da população periférica para superar o regime político de opressão. O “furador”, uma pistola na cintura, como referência clara à formação de comitês de autodefesa na periferia.
“O ódio por aqui passou e quase tudo aqui ele levou, o capital contaminou, profanou. Escrito que era pureza, maldita seja a ideologia burguesa”.
O rap convoca todos à luta contra o capital, que convulsiona territórios, na periferia, deixando os maiores rastros de destruição, a imagem da “pureza” buscada pela burguesia nas favelas, as balas nas mãos da criança sendo trocadas por pinos de cocaína.
Segue a batida do rap, alertando que o povo foi dividido e escravizado, com a ajuda de capitães do mato:
“Nem todo preto é guerreiro […] tais capitães chamam uma forma de cortar sua cabeça. Se é guerra, é guerra, que a tirania pereça. Traiu vai pagar, se oprimiu vai pagar”
Potente, a música toca e as imagens baseiam-se a cada referência, na luta popular com as referências ao Partido da Causa Operária. Na metade do videoclipe, chamados à luta do povo, nas vozes de dirigentes do Partido, se destacam:
“Querem calar a voz dos que defendem os trabalhadores… Chamamos a população a se manifestar barrando esse ataque aos direitos do povo brasileiro, de uma justiça a favor dos poderosos” (Anaí Caproni).
“Não vamos deixar calar a voz dos que lutam pelos interesses dos trabalhadores: salário, trabalho e terra. Chamamos a população e suas organizações” (Antônio Carlos Silva)
“Da consciência e da luta de todo o povo, os trabalhadores podem e devem governar”. (Rui Costa Pimenta)
Vemos na arte uma verdadeira demonstração de luta e de evolução da consciência política, da perseguição policial, dos inimigos do judiciário, de como o capitalismo corrompe e corrói a periferia. A música é uma verdadeira convocação:
“A geração dos que não está quente nem frio, pega a visão. Quantos irmãos na solitária e depressão, palavra, é verbo, verbo é vivo tem que questionar, tem que lutar. Ter ciência antes de votar, o mundo vai girar a espada vai cortar para todo lado. Nós está camuflado; o rap muda tudo quanto é capitão do mato, tem que estar focado, para não fechar com o errado. Quanta vida ‘loka’, quanta folha voa, quanto de chapéu eles te dá, de touca?”.
Chapéu e touca, gírias futebolísticas para definir uma jogada desmoralizante, é utilizada como referência para os trabalhadores que se sujeitam ao jugo dos poderosos, ceifando vidas de pessoas da mesma classe social de origem. Camuflar-se na arte convoca e alerta. Só haverá direito se houver justiça, e haverá justiça, se houver luta, alertam os autores.
“Que fique mais que claro que o direito de ir e vir tem que ser respeitado, representado por nós mesmo, em meio ao sofrimento. O clima é tenso. É nós que está prevalecendo, alguns tá falecendo. O luto bem guardado na memória daqueles que lutam pela melhora, te trago boas novas do início até o fim. Se teve matança, teve inveja de cair.”
Nos versos dos autores, o justo é exaltado, feliz em tudo o que acredita. Na luta, no ir e vir, os humilhados serão exaltados, e a convocação da música, mobiliza a favela, a periferia e os trabalhadores. Para assistir o videoclipe, basta apontar o celular para o QR Code abaixo.