A Petrobrás apresentou novamente um lucro estratosférico em apenas três meses de operação. Os R$44 bilhões (US$9,4 bilhões) divulgados pela companhia marcam também um recorde histórico na distribuição de dividendos para os acionistas da empresa, com uma margem líquida de 31,5%.
É o maior lucro líquido entre as petroleiras internacionais, com exceção da Saudi Aranco. A margem líquida foi 30 vezes maior do que a média das margens líquidas. O chamado ROE (“Return on equity”, a capacidade da empresa para gerar dividendos aos acionistas), acumulado em 12 meses foi de 34,5%, 5 vezes maior do que a média das demais petroleiras.
O WACC (custo de oportunidade) da Petrobrás está em torno de 8% (12 meses), enquanto o ROIC (retorno sobre o capital investido) foi de 19,4% (12 meses). A criação de valor foi mais do que o dobro do custo de oportunidade. Os ROICs da Chevron e Exxon foram, respectivamente, 11,3% e 7,8%.
Ainda de acordo com o balanço do 1º trimestre de 2022 da Petrobrás a empresa investiu apenas US$1,76 bilhões, enquanto sua depreciação, depleção e amortização chegaram a US$3,17 bilhões. Na prática a empresa está sendo sucateada para sobrar mais dinheiro para os capitalistas. Os dados acima elencados estão disponíveis no perfil do Twitter do Professor de Economia Brasileira e Economia Política do IE/UFRJ, Eduardo Costa Pinto.
Todo esse “sucesso” é possível à custa dos consumidores, explorados pela política de preços da petroleira. Esse fato, porém, parece não incomodar a imprensa capitalista brasileira, que passou a reproduzir matérias louvando o resultado obtido pela Petrobrás. Jornais como Folha e o Estado de S.P, porta-vozes da burguesia, reproduzem a falácia de que, como o governo federal é o acionista majoritário da Petrobrás, também deveria comemorar o lucro de sua empresa.
O cinismo da imprensa pró-imperialista esconde o fato de que o mesmo governo continua autorizando o envio de montanhas de dinheiro para o exterior. Dinheiro do trabalhador brasileiro que vai parar no bolso de quem não produz nada.
Prova disso são os dividendos pagos aos acionistas que não pagam imposto de renda no Brasil. O escândalo é maior quando analisamos que a empresa anunciou o pagamento de US$10,2 bilhões de dividendos (R$48,5 bilhões). O valor é 108% o valor de todo o Lucro Líquido do período e 4x mais do que a média das petroleiras internacionais (US$2,5 bilhões).
Desse bolo distribuído no 1º semestre, apenas R$17,8 bilhões irão para o Governo Federal e para o BNDES; R$30,7 bilhões irão para os acionistas privados, dos quais R$19,7 bilhões são para acionistas estrangeiros das bolsas NYSE-ADRs, B3, CRGI e Blackrock; e R$ 11 bilhões para os acionistas brasileiros.
O lucro da Petrobrás (R$44 bilhões) no 1º trimestre de 2022 e a distribuição de recorde de dividendos só pode ser compreendido quando analisamos o aumento sistemático dos preços praticados nas refinarias da empresa, que no acumulado entre o 1º trimestre de 2021 e de 2022 chegou a assustadores 53%.
Apenas o Diesel aumentou 58% nesse período e um novo aumento de 8,87% realizou-se no último dia 10. O botijão de gás já consome 10% do salário mínimo, levando muitas pessoas a cozinhar a lenha ou improvisar com álcool doméstico, aumentando o número de acidentes fatais com o produto.
A Petrobrás segue a chamada Paridade de Preços Internacionais (PPI), ou seja, cobra o consumidor brasileiro em dólar. O que não faz o menor sentido uma vez que a Petrobrás é brasileira, a tecnologia de perfuração e exploração é brasileira, assim como os salários; o Brasil é autossuficiente em petróleo e em capacidade de refino. Produzimos em reais e o governo cobra em dólar para encher os cofres dos capitalistas estrangeiros.
O aumento dos combustíveis impacta toda a cadeia produtiva nacional e quando somada a crise energética de conjunto, é capaz de colocar o País numa recessão econômica profunda. Para quem detém ações das empresas nacionais isso não é problema.
A tentativa de naturalizar o assalto à Petrobrás e ao bolso dos brasileiros deve ser combatida com reivindicações pela estatização de toda a cadeia produtiva do petróleo, do poço ao posto.